Um grande brasileiro sempre relegado ao olvido pelos historiadores da pátria que de modo tão extremado amou e, pela qual, abnegadamente, tudo fez, sacrificando mesmo seus próprios interesses pessoais em bem da coletividade, foi , sem dúvida, o Dr. Miguel Vieira Ferreira. Nascido no Maranhão e dotado de vastos conhecimentos científicos que se manifestavam nele em sua inconteste sabedoria, possuidor de uma força de vontade indômita, esse ilustre cidadão, esposando sempre ideais os mais alevantados, amplos e liberais, procurou sempre transmitir o bem deles decorrente a todos quantos tiveram a dita de com ele conviver, tornando sua instrução como pedagogo digno da mais reverente e atenciosa consideração! "

(Extraído de "A História e suas lacunas" da Dra. Mary Vieira Ferreira)

Julgo ter prestado serviço importante e momentoso, publicando neste folheto o Manifesto Republicano dado à lume n' A República aos 3 de dezembro de 1870. Não só os brasileiros e estrangeiros lerão agora, cheios de interesse, esse grandioso e imortal documento do passado, como, além disso, recordarão os nomes ou ficarão conhecendo os primeiros propulsores deste prodigioso movimento. A mocidade precisa saber, de presente e de futuro, como estas cousas se tem passado desde a origem; e já é tempo de ir consignando os dados históricos para que não fiquem no esquecimento"

(parte dos apontamentos feitos pelo Doutor Miguel em 10 de dezembro de 1889 sobre o Manifesto Republicano de 1870)

Chegando ao Rio de Janeiro em 1870, trazendo consigo a idéia de levantar um partido republicano, como falara muitas vezes no Maranhão sem achar eco nem ser compreendido senão por seu pai e pelo jovem Ennes de Souza , hoje doutor e lente catedrático e mui distinto da Escola Politécnica e notável diretor da Casa da Moeda do Rio de Janeiro; de acordo com seu irmão o Dr. Luiz Vieira Ferreira, então Capitão do estado-maior de primeira classe do Exército e que tinha feito com brilhantismo a campanha do Paraguai se achava bem empregado e com mui grande conceito; e mais um pequeníssimo grupo, fundaram o Club Republicano, primeiro que para o dito fim e sob essa denominação e princípios foi criado no Brasil, a núcleo de onde partiu a transformação rápida e operada no país, e que gerou e produziu o grande 15 de novembro de 1889

Por votação do partido nascente foi eleito um dos cinco primeiros redatores da folha A República, na qual não só escreveu muito de lavra própria com extrema energia, zelo e dedicação, como publicou traduções de notáveis obras de Ed. Laboulaye, J. Simon, J. Favre , etc. "

(extraído do Álbum de Portugueses e Brasileiros Eminentes)

A idéia republicana afirmou-se no Brasil através das muitas revoluções e motins que agitaram este país desde os tempos coloniais até o banimento da família imperial. A sua propaganda, porém, inteligente, metódica, sistemática, generalizada pelas camadas populares, começou em 1870, com aquele celebre manifesto e a publicação do jornal "A REPÚBLICA".

Sobre este acontecimento assim se exprime o Doutor Miguel Vieira Ferreira em um opúsculo que não foi contestado: " Em 1870, retirando-me do Maranhão para a Côrte, disse a algumas pessoas que eu vinha trabalhar pela república; o que deu lugar a ironia e sarcasmo de um desses homens sem fé nem crenças que pensam ser os luzeiros e a personificação da prudência; que não acreditam senão n'aquilo que vêm e que lhes dá um interesse imediato; e que chamam de utopia o que não podem compreender como possível ou tudo que lhes possa trazer qualquer sacrifício ou prejuízo. Passando por Pernambuco fui sequioso procurar Borges da Fonseca para comunicar-lhe minha idéia e obter dele esclarecimentos, conselhos ou aquilo que tivesse para me dar.Recebi dele em resumo o seguinte: " Não se fie em quem já estiver com a cabeça branca como eu. É gente toda estragada pela monarquia, é gente podre. Mesmo na mocidade a corrupção é grande. No entanto há na Côrte dois moços, Francisco Rangel Pestana e Henrique Limpo de Abreu, redatores do Correio Nacional. Esses dois moços eu os tenho por sinceros; são republicanos e não me parecem corrompidos. Procure-os."

(extraído do livro "História da República" de Plácido de Abreu)

Parti para o Rio de Janeiro; e, aqui chegando, logo o "Correio Nacional" deu uma notícia honrosa de minha chegada. Soube que esse artigo fôra oferecido à redação por um colaborador, caráter muito nobre e elevado da nossa sociedade. O artigo e o ardente desejo que eu tinha de conhecer pessoalmente esses dois moços, únicos em quem Borges da Fonseca confiava e de quem muito esperava, fez-me logo procurá-los em seu escritório de advocacia e redação. Em companhia de meu irmão, Dr Luiz Vieira Ferreira, fiz-lhes conhecer o fim da minha visita e o conceito em que os tinha Borges da Fonseca. Apresentei-lhes a idéia de forma-se um Club Republicano e de criar-se o partido com uma Folha que se chama-se "A República" e tudo feito ostensivamente, quaisquer que fossem as consequências. Eles asseguraram-me ser esse seu modo de pensar e o de alguns outros radicais, mas que eram tão poucos e que tudo se achava tão corrompido que não pensavam ser possível encontrar mesmo um pequeno número de indivíduos, que tivessem a coragem de congregar-se e trabalhar às claras. Disse-lhes ser conveniente experimentar e que, por nosso lado, com esse projeto eu tinha vindo, estávamos ambos dispostos a correr todos os perigos; que nós correríamos de bom grado o risco da cabeça. Eles ficaram de pensar sobre o assunto e separamo-nos. Poucos dias depois, recebemos um cartão convidando para uma reunião republicana. O cartão dizia: Club Republicano. Ficamos muito satisfeitos e perguntamos ao portador pelo seu nome. Respondeu-nos : "Chamo-me João de Almeida e o convite veio do escritório de Limpo de Abreu e Rangel Pestana."

(parte do publicado pelo jornal "O Estado de S.Paulo" de 3 de dezembro de 1970)

"Narrei alguns fatos do princípio; outros historiem até ao fim. A história fará menção minuciosa de tudo. Não tive a fortuna de achar-me presente às ocorrências do dia 15, porque outros deveres imperiosos me retinham fora da cidade, privando-me de ter conhecimentos dos fatos, e de compartilhar a responsabilidade deste grande dia. Louvores ! louvores ! Ao ínclito Marechal Deodoro, membro ilustre de uma ilustre família, herói n'uma família de heróis, brasileiro patriota, que elevou o seu nome e a sua pátria acima de tudo quanto se tem visto no velho e no novo mundo. Alto e bem alto proclamemos o patriotismo do exército e armada brasileiros. Reconheçamos o civismo de nossos concidadãos. E sejam dados toda a benção, honra, glória e poder ao Senhor Deus dos Exércitos !"

(parte dos apontamentos feitos pelo Doutor Miguel em 10 de dezembro de 1889 sobre o Manifesto Republicano de 1870)